A TRISTE FATALIDADE
Autor: Merlânio Maia
Simeão de Pedro Bento
Juntou a família inteira
E firmou seu pensamento
De sumir de Catingueira
Pois a seca no sertão
Expulsava Simeão
Da sua terra natal
Assim juntou a família
E botou o pé na trilha
De São Paulo capital
Chegando na capital
Simeão se espantou
Tanto prédio vertical
No entanto ele encontrou
Uma oportunidade
Já buscava na cidade
Um emprego urgentemente
Pois se achava arranchado
Num barraquinho apertado
De um seu contraparente
Conseguiu se empregar
Depois de muito suplício
Seu trabalho era limpar
Vidraça de edifício
Passava dias inteiros
Junto de dois companheiros
Nos andaimes pendurado
Só assim pode alugar
Um barraco pra morar
Na favela do alagado
Não cochila nem descansa
Não recompensa com cobre
Nem dá sombra ou água mansa
Mas quando quer maltratar
Faz no vigésimo andar
Como fez com Simeão
A barriga fez compressa
- Cumpade desça depressa
Num dá pra segurar não!
Porque descer nem pensar!
- Ô rapaz faz isso não
Não consigo nem falar
Que o registro já fez bico
Arranje um balde, um penico
Ou desça no zum zum zum!
- Bata alí nessa janela
Peça ajuda a dona dela
Descer de jeito nenhum!
Me socorra, dê um jeito
Já tô me acabando em lama
E vou melar o rejeito
Logo a mulher protamente
Leva o Simeão valente
Pra que possa aliviar
E o pobre entra correndo
Que o monstro estava crescendo
E ele a gemer sem parar
Espremendo o fato seu
A corda que segurava
O andaime se rompeu
Os companheiros coitados
Lá de cima despencaram
Se esborrachando no chão
Simeão na tremedeira
Viu que aquela caganeira
Foi a sua salvação
Da triste fatalidade
E as famílias choravam
De desespero e saudade
A esposa de Simeão
Orava de gratidão
A Deus, por tê-lo poupado
Quando o dono da empresa
Trouxe uma grande surpresa
Pra família dos coitados
E a minha alma está presa
O meu coração doeu
Por isso a nossa empresa
Dará casas mobiliadas
Às famílias enlutadas
Pra alívio do sofrimento
E por dez anos de vida
Terão feira garantida
Pra amenizar o tormento
Ganhará vinte salários
E os órfãos filhos e filhas
Terão mais uns honorários
E até a faculdade
A educação de verdade
Eu continuarei pagando
E a mulher de Simeão
Diz metendo-lhe a mão:
E esse bonitão CAGANDO!!!