sexta-feira, 22 de maio de 2009

A TRISTE FATALIDADE - Autor: Merlânio Maia

A TRISTE FATALIDADE

Autor: Merlânio Maia


Simeão de Pedro Bento

Juntou a família inteira

E firmou seu pensamento

De sumir de Catingueira

Pois a seca no sertão

Expulsava Simeão

Da sua terra natal

Assim juntou a família

E botou o pé na trilha

De São Paulo capital


Chegando na capital

Simeão se espantou

Tanto prédio vertical

No entanto ele encontrou

Uma oportunidade

Já buscava na cidade

Um emprego urgentemente

Pois se achava arranchado

Num barraquinho apertado

De um seu contraparente


Conseguiu se empregar

Depois de muito suplício

Seu trabalho era limpar

Vidraça de edifício

Passava dias inteiros

Junto de dois companheiros

Nos andaimes pendurado

Só assim pode alugar

Um barraco pra morar

Na favela do alagado


Mas o destino do pobre

Não cochila nem descansa

Não recompensa com cobre

Nem dá sombra ou água mansa

Mas quando quer maltratar

Faz no vigésimo andar

Como fez com Simeão

A barriga fez compressa

- Cumpade desça depressa

Num dá pra segurar não!


- Pois segure Simeão

Porque descer nem pensar!

- Ô rapaz faz isso não

Não consigo nem falar

Que o registro já fez bico

Arranje um balde, um penico

Ou desça no zum zum zum!

- Bata alí nessa janela

Peça ajuda a dona dela

Descer de jeito nenhum!


Bateu e gritou: Madama,

Me socorra, dê um jeito

Já tô me acabando em lama

E vou melar o rejeito

Logo a mulher protamente

Leva o Simeão valente

Pra que possa aliviar

E o pobre entra correndo

Que o monstro estava crescendo

E ele a gemer sem parar


Porém enquanto ele estava

Espremendo o fato seu

A corda que segurava

O andaime se rompeu

Os companheiros coitados

Lá de cima despencaram

Se esborrachando no chão

Simeão na tremedeira

Viu que aquela caganeira

Foi a sua salvação


No velório só falavam

Da triste fatalidade

E as famílias choravam

De desespero e saudade

A esposa de Simeão

Orava de gratidão

A Deus, por tê-lo poupado

Quando o dono da empresa

Trouxe uma grande surpresa

Pra família dos coitados


Isto nunca aconteceu

E a minha alma está presa

O meu coração doeu

Por isso a nossa empresa

Dará casas mobiliadas

Às famílias enlutadas

Pra alívio do sofrimento

E por dez anos de vida

Terão feira garantida

Pra amenizar o tormento


Cada uma das famílias

Ganhará vinte salários

E os órfãos filhos e filhas

Terão mais uns honorários

E até a faculdade

A educação de verdade

Eu continuarei pagando

E a mulher de Simeão

Diz metendo-lhe a mão:

E esse bonitão CAGANDO!!!