terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

INVENÇÃO DE SATANÁS

 


INVENÇÃO DE SATANÁS

Pompílio Diniz

Diz que Deus nosso Sinhô
Há muntos tempos atraiz
Arrezorvido chegô
Pra fazê seu mundo im paiz
Mas logo nesse momento
Com odaça e atrevimento
Tombém chegô Satanás

Foi aí que Deus falô:
- Qui tu vêi fazê aqui?
Satanás arrespontô:
Eu tombém mi arrezorvi
E vim fazê invenção
Pra ajuda na criação
Si voimicê premiti

Foi assim qui Deus pensô
- O Bem sempre vence o má
E sua obra começo
Sem pro Capeta liga
Começo o seu trabaio
Sem cunvessa e sem impaio
Um de lá ôto de cá

Entonce Deus feiz o dia
Chêi de luz e quilarão
O diabo com agonia
Feiz a noite e a escuridão
Naquela treva sem fim
Ele pôis isprito ruim
Lubisome e assombração

E assim Deus fêiz um cantêro
Di tudo quanto era frô
Nargumas ele pôis chêro
E nôtras beleza e cô
E o diabo vêi de mansim
E tudo quanto era ispim
Nessas prantas simeô

Deus entonce fêiz as água
Fêiz os rios, fêiz o má
E Satanás chêi de mágua
Fêis o fogo pra queimá
Naquela ocasião
Tempestade e furacão
Satanás pôde criá

Deus fêiz o belo e a graça
E deu sentido à razão
Satanás fêiz a cachaça
E tomô logo um pifão
De tão bebo que ficô
Dessa vêiz ele invento
Pulítica de inleição

Deus entonce fêiz os bicho
Fêiz os pêxe e os passarim
E Satanás pru capricho
Num dizispêro sem fim
Dêxô logo em dois sigundo
As sete praga do mundo
Cum todos insetos ruim

O sinhô dano harmonia
A divina inspiração
Fêiz o amor e a alegria
Paiz, bondade, compriensão
O diabo criô mardade
Guerra, fome e farsidade
Óido vingança e ambição

Tava tudo quaje feito
Deus oiô pra criação
Cum seu oiá sastifeito
Pra acaba sua invenção
Feiz seu derradêro invento
Di um barro meio cinzento
E deu-li o nome de Adão

Chamô-li trêis vêiz o nome
Quando ele arrespondeu
Deus entonce dixe: Tome!
Esse mundo é todo seu
Pode dispô à vontade
Si ôvé dificuldade
Já sabe chame pru eu

Mais o homi era dus tais
Qui drumia inté sentado
E certa vêiz Satanás
Li veno im sono cerrado
Ixtraiu-li uma custela
E Adão nem deu pru ela
Veja qui sono pesado

E o bixo Cuma é tinhoso
Da custela qui tiro
Feiz o invento mais perigoso
Qui ele na terra dêxô
Pru quê quando Adão deu fé
Tava na frente a muié
Nunstanti Adão miorô

Tempos dispois foi preciso
Nosso Sinhô vim falá
Nas terra do Paraiso
Vocês num pode ficá
Quando essa muié chegô
Pru quê você num mandô
Na merma hora vortá?

Mas Adão arrespondeu:
Sinhô eu ia mandá
Mas quando ela oiô pra eu
E feiz cum zói um siná
Nessa hora eu fiquei mudo
Ficô ela, cobra e tudo
Sem que eu pudesse falá

Apois todos trêis agora
Um castigo vão levá
Essa cobra vai simbora
A muié pode ficá
Lá fora do paraíso
E pra você cria juízo
Dessa vêiz vai trabaiá

Hái munta gente que diz
Que tudo isso foi preciso
E eles vivero filiz
Apesá dos prejuízo
Pôis Adão dizia inté:
Paraízo sem muié
Num pode sê paraiso!

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