VERSOS SOBRE A VIDA E O VIVER
(Merlanio)
Criamos o Projeto Bonecos de Lata que leva alegria as crianças portadoras de câncer e suas famílias. Então fiz alguns começo estes versos com a reflexão que este trabalho me suscita.
Quando chega a terça-feira
Pro Hospital do Câncer vou
Canto alegria aos doentes
A esperança, a fé lhes dou
Mas tanta dor ali tem
Que eu volto em prantos também
Tanta dor me machucou
Quem vê criança com câncer
Já roga a Deus sem demora
Porque não sabe o mistério
Que fez isso nessa hora
Que câncer atingiu a filha
Mas tortura uma família
Que por todo lugar chora
Quando vem a enfermidade
A gente fica pensando
Como a vida aqui é boa
E vem a pergunta: Quando?
Que aquela dor que aperta
É um aviso que desperta
Quem sabe é Deus nos chamando?!
Quem ora a Deus e lhe pede
A cura do corpo agora
Depois da cura agradece
Paga a promessa na hora
Esquece que aqui na Terra
A vida aos poucos se encerra
E todos irão embora
Nunca rogue eternidade
Para viver nesse mundo
A passagem aqui na terra
É para Deus um segundo
Porque ninguém permanece
Mesmo em ladainha e prece
Volta ao seu plano oriundo
Quem pensa que a vida acaba
Com a morte é limitado
Imagina a criação
Que faz lixo o descartado
Que Deus perde o que fabrica
Que Ele nem sequer recicla
Aquilo que foi criado
Tudo que Deus faz é bom,
É Belo, útil e perfeito
Quando cria é para sempre
E utiliza o seu bem feito
E quando faz não descarta
Quando cria a Arte é farta
Pra ninguém botar defeito
Eu tenho pensado muito
Na vida após a metade
Estou mais perto do fim
Já vivo com intensidade
Porque não sei quando acaba
Meu prazo de validade
Vejo que o tempo é ligeiro
E vive enganando a gente
As lembranças da infância
Vêm a mim constantemente
É como se ontem fosse
E como tudo acabou-se
Tudo hoje me é urgente
Por mais que a gente se apegue
A vida escorre da mão
Como finos grãos de areia
E água na evaporação
Sobre cada aniversário
Diminui no calendário
Um ano aqui neste chão
Dinheiro, fama e poder
Faz o orgulho dizer: Vem
Ver que hoje és maior
Que o mundo todo também!
Mas é tudo ledo engano
Quando a morte baixa o plano
Este é mais um Zé-ninguém!
A morte equilibra a vida
Doma o brabo matador
Quem voa logo aterriza
Quem humilha cai do andor
Dona Morte não demora
E a todos ela devora
Com o jeito apaziguador!
Um dia andava no campo
E ouvi um choro abafado
Era um menino escornado
Ao lado estava a mãe morta
Ali morava a tristeza
Que a fome tinha chamado
E eu vi horrorizado
Que a fome também se exporta
Quando a fome bate à porta
Todos são co-responsáveis
Multidões de miseráveis
São nossos primos e manos
Precisa a ação conjunta
De amor e de caridade
Pois sem a fraternidade
Desumaniza-se humanos
Fome é triste enfermidade
Que tortura, humilha e mata
E quando a fome maltrata
Pede pressa, pede urgência
Se o socorro chegar tarde
Será fatal o ensejo
Que a fome traz o cortejo
Da morte por negligência
Vi a menina chorando
Fui ver o que se passava
Um velho dela abusava
E este quase a estuprou
Ela de fome tremia
E entregando-se ao sagaz
Impedi o ato voraz
Denunciei o infeliz
E denuncio o país
Pelo mal que a fome traz
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