domingo, 18 de novembro de 2007

TRANCA RUA - Amazan


Eu ainda era menino
A premera vez que vi
O cabocão lazarino
E nunca mais esqueci
Seu nome era tranca rua
Pois quando a vontade sua
Era fechar a cidade
Dava ordem pra trancar
Mercado, bodega, bar
E até a casa do padre


Quatro, cinco, seis soldado

Para ele era perdido
Uns ficava istrupiado
Outros ficava estendido
De modos que a cidade
Não tinha tranqüilidade
No dia que ele bebia
Pois quando se embriagava
Dava a gota bagunçava
E prendê-lo ninguém podia



Tranca rua era um caboco

De dois metros de artura
Os braço era aqueles tôco
As pernas dessa grossura
Não tinha medo de nada
Pois até onça pintada
Ele sozinho caçava
Pegava a bicha com a mão
Depois com um cinturão
Dava-lhe uma pisa e matava



E eu cresci-me escutando

Falar do cabra voraz
O tempo foi se passando
E eu tormei-me rapaz
Mole que só a mulesta
Pois até pra ir uma festa
Eu era discunfiado
Se acaso visse uma briga
Me dava uma fadiga
Eu ficava todo mijado



Quem hoje olha pra mim

Pensa até que eu tô inchado
Mais eu nunca fui assim
Naquele tempo passado
Eu era um cabra mufino
Desses do pescoço fino
Da cabeça chata e feia
No lugar onde eu morava
O povo só me chamava
De caboré de urêia



Por artes do mangangá

Um dia eu me alistei
Num concurso militar
E apois num é que eu passei?
E me tornei um sordado
Mago feio e infadado
Nem cum revóve eu pudia
Porém se o chefe mandasse
Prendê alguém qui errasse
Dava a gota mais eu ia



Um dia de madrugada

Eu estava bem deitado
Quando chegou Zé buchada
Com os óio arregalado
Foi logo chamando a gente
Depois deu parte ao tenente
Relatou o desmantelo
Traça rua ontem brigou
Portanto agora o Senhor
Vai ter que mandar prendê -lo



O tenente olhou pra mim

Eu chega tive um abalo
Disse: - Amanhã bem cedim
Você vá lá intimá-lo
Disse isso e foi se deitar
Eu peguei logo a ficar
Amarelo e mêi cansado
Deu-me uma tremedeira
E eu disse é a derradeira
Viagem desse soldado



No outro dia bem cedo

Eu pus o pé no camim
Ia tremendo de medo
E cunversando sozim
Aqui e acolá parava
Fazia um gesto insaiava
O que diria pra ele
E saí me maldizeno
Nove hora mais ou menos
Eu cheguei na casa dele



Fui chegando com cuidado

A casa estava trancada
Eu fui olhando de lado
Vi ele numa latada
Tava dum bode tratano
Eu fui lá me aprochegano
Pra perto do fariseu
Minha garganta tremia
Eu fui e disse assim: Bom dia!
Ele nem me arrespondeu



E eu peguei conversando

E me aprochegano mais
E ele lá trabaiano
Sem me dá nenhum cartaz
Eu disse: - Bonito dia
Eihm! Seu Toím quem diria
Que esse ano ia chuver
Eita qui bodão criado
É pra vender no mercado
Ou mode o senhor cumê 


Aí ele olhou pra mim
Eu peguei logo a surri
Ele diche bem assim
Qui diabo tu qué aqui?
Aí eu diche não sinhô
É qui eu sou um caçador
Qui moro no pé da serra
Me perdi de madrugada
Não achei mais a estrada
E saí nas suas terra


Aí ele me interrogou

Então cadê seu bisaco?
Eu diche ah! Não sim senhor
Caiu dentro dum buraco
Ele diche sente aí
Qui eu tô terminando aqui
Qui é pra mode conzinhar
E você chegou agora
Portanto só vai imbora
Adispois qui armoçá



Quando nóis tava armonçando

Ele pegou cunversar
E diche: -Faz vinte anos
Qui moro nesse lugar
Sem mulé e sem parente
As vezes tomo aguardente
Faço papel de bandido
Eu sei qui é covardia
Mas quando é no outro dia
Eu to munto arrependido



Então eu disse é agora

Qui faço a minha defesa
Peguei a fera na hora
Dum momento de fraqueza
Aí disse: - Realmente
O sinhor é diferente
Quando istá imbriagado
Mais dexe isso pra lá
Qui a vida vive a passar
E o qui passou ta passado



Viu seu Antoim tem mais uma

Eu nunca fui caçador
Tombem istô cum vergonha
De tê mentido ao sinhô
Eu sou um pobre sordado
Qui as orde do delegado
Meu devê é dispachar
Porém prefiro morrer
Do que dizer a você
Qui vim aqui lhe intimar



Se o delegado achar ruim

Pode tirar minha farda
Mais intimar seu Toím
Deus me livre intimo nada
Nisso Ontoim se levantou
Bebeu água se sentou
Dispois pegou preguntar
Quer dizer qui o sordado
Pur orde do delegado
Veio aqui mi intimar



Eu fui falar mais não deu

Peguei logo a gagejar
Nisso Ontoim oiou pra eu
Disse: -Pode se acalmar
Resolvi ir com você
Pra cunversar e saber
O qui quer o delegado
Pois se eu não for camarada
Vão tirar a sua farda
E eu vou me sentir curpado



E vamo logo si imbora

Enquanto eu tô cum vontade
Mais ou menos quatro hora
Fumo entrando na cidade
De longe eu vi o tenente
Assentado num batente
Cum uns cabra a cunversar
Qui quando viu nóis gritou:
-Valei-me nosso Senhor
Ispie só quem vem lá



Eu só tou acreditando

Porque meus óio estão vendo
Tranca rua vem chegando
Caboré vem lhe trazendo
O cabra é macho demais
Nisso eu fui e passei pra trás
Que é pra chamar atenção
E só pra me amostrar
Eu resolvi impurrar
Tranca rua cum a mão



Esse nêgo camarada

Ficou meio enfurecido
Deu-me uma chapuletada
Por cima do pé do uvido
Qui eu saí feito um pião
Rodano sem direção
Pru cima de pedra e pau
Graças a Virge Maria
Só acordei no outro dia
Na cama dum hospital



Não sei o qui se passou

Dispois qui eu dismaiei
Por que ninguém me contou
E eu tombem não perguntei
Eu só sei qui o delegado
Até hoje é aleijado
E qui esse uvido meu
Nunca mais iscutou nada
Adispois da bordoada
Qui Tranca rua me deu.!


DECLAMADO POR MERLÂNIO MAIA EM VÍDEO

14 comentários:

Anônimo disse...

Adoro essa poesia...se esse sordado num fosse tão saleinte...ainda escutava até hj....

Anônimo disse...

até que fim encontrei...

Vinicius Davi disse...

Você está de parabéns, gostei do seu trabalho e ter transcrito a poesia tentando manter o tom do caboclo do sertão, ainda serve de divulgação.
Também sou fã de poesia nordestina.

Anônimo disse...

parabéns, precisava de uma poesia de amazan pra escola, e você me ajudou muito !

Anônimo disse...

HJ EU TOU MUITO BEBA E ESCUTEI ISSO DE UM CABRA MAIS BEBO AINDA, QUE POR SINAL É COVEIRO E HUMORISTA NAS HORAS VAGAS (RSRSRS), E ADOREI...
VIM CONFERIR PRA VER SE ESSE CORDEL OU SEI LÁ O QUE ( NÃO CONSIGO DISTINGUIR MAIS, POR CONTA DO ESTADO ETILÍCO) EXISTIA REALMENTE...
SÓ SEI QUE ESSE MEU NORDESTE É RICO E NINGUÉM SABE!!!!
PS.: ESPERO Q EU LEMBRE AMANHÃ ONDE VIM E O Q FIZ...

paulo disse...

sou do ceara e adoro todas as poesias de amasan o cara é muinto fera nao cei como consegi fase umas rimas tam bem feitas

Anônimo disse...

AMAZAM e um expoente da música popular nordestina,safoneiro,cantor ,poeta, sempre fazendo de suas músicas,rimas e poésias,belas marrativas da nossa vida matuta de nordestino forte e que não desiste nunca !!!!!!!!!!
lelo gravatá-pe
aurelioeap@hotmail.com

adauberto disse...

adauberto rio. ouvi essa poesia na cid de santa helena paraiba, na hora q cheguei lá, pelo radio local. hoje estou lendo pela internet e vou salva para q eu possa aprense-la. parabens.

Sd Eugenio disse...

Desde criança que eu adoro as poesias do Amazan, e a que eu mais gosto e A REVOLTA DAS JUMENTAS! e não canso de escutar-la, também sei decoradas varias poesias. o Amazan é e sempre será uma Estrela que brilha no nordeste e em todo Brasil.

Unknown disse...

Sou fã de Amazan e a poesia tranca rua é uma das que mais gosto...

Unknown disse...


Esta faltando;
quando ele diz: FAZ 20 ANOS QUE MORO NESSE LUGAR/SEM MULHER E SEM PARENTE/
AS VEZ TOMO AGUARDENTE/ FAÇO PAPEL DE BANDIDO.. ( Ontem mesmo sem quer,fiz o maior destampido na fazenda de João conha/ Hoje me sinto com culpa/ não vou lá pedir desculpa/
porque estou com vergonha)

merlaniopoeta.blogspot.com disse...

Está lá, Meuzamô. Vc nem viu, mas tem. Xêro

Unknown disse...

Amazan e mais um dos grandes do nordeste, neste estilo. Admiro e muito talentoso.

Anônimo disse...

 OU ADORO TODOSNOS POEMMAS ESTA PROCURANDO A ANOS. MMAS ESSE ESTS FALTANDONUM PEQUENO PEDAÇO

-Faz vinte anos

Qui moro nesse lugar

Sem mulé e sem parente

As vezes tomo aguardente

Faço papel de bandido

Ontem mesmo fiz umas prezepada na fazendo de Jão Cunha, porém me sinto com culpa, sei que é covardia
Mas quando é no outro dia

Eu to munto arrependido